Assisti hoje o filme O Jovem Marx. Narra a vida de Marx, de sua família e de Engels na segunda metade da década de 1840, até a publicação do Manifesto Comunista (1848). A vida de Marx é contada de forma bastante romântica, não há como não simpatizar especialmente com sua mulher, a Baronesa Jenny von Westphalen, que se indentifica com as ideias do marido.
O melhor das ideias de Marx é escrito na sua juventude, até os 30 anos, depois ele se torna menos criativo e mais positivista, estruturalista, economicista. Os intérpretes esquerdistas-conservadores dizem o contrário. Por exemplo, para Althusser, que separa de forma cartesiana ciência e ideologia, somente a última obra de Marx, O capital, é científica. Trata-se de uma visão simplista tanto de ciência quanto de ideologia, que faz muito sucesso entre os que têm preguiça de pensar. Para outros intérpretes, como Morin, o melhor de Marx está em Manuscritos Econômico-Filosóficos e outros escritos da juventude.
Li, não faz muito tempo, o livro Adieu Marx, de Volker Elis Pilgrim, que analisa toda a correspondência entre Marx e Engels durante cerca de 20 anos, focalizando a vida familiar de Marx. Aquela governanta chamada carinhosamente "Lenchen", no filme, é na realidade Helene Demuth, que a mãe de Jenny envia para a casa dos Marx. Aproveitando-se de uma viagem de Jenny Marx engravida Helene e, para esconder o fato de todos, convence seu amigo Engels a assumir a paternidade da criança. Marx começa a sofrer de inúmeras doenças, sob o peso da consciência.
Mais escabroso ainda é o que aconteceu entre ele e Marianne, irmã de Helene, uma segunda empregada que a mãe de Jenny envia para ajudar o casal com as crianças.
Segundo a análise psicossocial detalhada do caso feita por Pilgrim, Marx também engravida Marianne e esta, ao tentar fazer um aborto, morre. A vida de Marx vira um inferno, cada vez mais doente. Jenny também sofre muito de problemas digestivos.
Sempre sustentado por Engels, filho de industrial, e por herança de Jenny, o velho Marx contradiz todos os seus princípios humanistas da juventude enquanto escreve e reescreve suas obras, de forma crescentemente desvinculada da realidade dos trabalhadores.
Evidentemente os marxistas gostam de pintar uma vida heróica e romântica do casal, sofrendo perseguições e vivendo na miséria. Mas a realidade foi outra. Marx tinha um estilo autoritário e machista de se relacionar com as mulheres. Numa das cartas a Engels, escreve que as mulheres "são criaturas cômicas, mesmo as inteligentes" (p.58) e noutra carta escreve "então apareceu a tolice das mulheres...Parece que elas carecem de tutela" (p. 58).
Sobre a "pobreza" de Marx, é preciso esclarecer que ele afirma em 1868 precisar de 400 a 500 libras por ano para viver em Londres. Engels lhe pagava uma pensão de 40 libras por mês. Na indústria têxtil do pai de Engels cada operário ganha na época pouco mais de 4 libras por mês (p. 57).
Após 7 anos vivendo num alojamento miserável no bairro londrino de Soho, desde 1856 Marx vive com Jenny, três filhas, a governanta Helene e por 5 anos também com Marianne, em "castelos encantados" e "palácios". Em 1864, o casal Marx, com muita pompa, oferece bailes em sua casa, em Modena Villa, Maitland Park, Haverstock Hill, Londres (p. 56).