No discurso da velha política, o crescimento do PIB é prioridade máxima, o que significa dizer que a sustentabilidade social, ambiental e econômica é secundária. Tal convergência permitiu a união entre PT e PMDB entre 2006 e 2016 e levou à crise atual.
A política anticapitalista não precisa nem deve ser antimercado, já que o mercado é uma instituição necessária em qualquer sociedade e tem uma história de mais de 47 séculos.
Mercadocentrismo é de fato a melhor denominação do capitalismo, como bem sabia Guerreiro Ramos. A centralidade e o expansionismo do mercado é o problema mais grave, já que isto leva à insustentabilidade social, ambiental e econômica. O mercado como instituição central degrada as demais instituições e impede o surgimento e a expansão de outras instituições e organizações que priorizam a fenonomia (criatividade, autorrealização) e a isonomia (relações igualitárias, cooperativas).
Em resumo, o mercadocentrismo é a negação da sociedade multicêntrica. Esta última é só parcialmente capitalista, ou melhor, mercadológica, mas não é compatível com a centralidade do mercado e com a mercantilização de todas as relações e instituições.
As políticas multicêntricas requerem capacidade de afirmação das culturas locais, endógenas, de forma a colocar o mercado no seu devido lugar, por assim dizer. O valor de troca predominando sobre o valor de uso é uma invenção recente na história. É paroquial, não é universal, pois diz respeito às características dominantes em sociedades eurocêntricas e norte-americanas desde meados do século XVI.
As políticas multicêntricas são fundamentalmente sustentáveis, descentralizadoras, criativas, cooperativas, colaborativas. E são viáveis, além de estarem em crescimento notável, apesar de marginalizadas. A convergência entre os sistemas de energia sustentável com os sistemas de comunicação em redes abertas, como a internet, escapa às previsões de domínio dos países centrais, como a internet escapou das previsões e pretensões do Pentágono.
Neste contexto, tanto a polarização quanto a convergência entre esquerda-direita constituem em si um mesmo fenômeno caracterizado pelo conservadorismo, pelo reacionarismo, pela insustentabilidade multidimensional (social, ambiental e econômica).