UM FRAGMENTO DA MINHA HISTÓRIA
Quando eu estudava no primeiro grau, no colégio Emilio Meyer de Caxias do Sul, na década de 1960, uma professora de português começou o semestre propondo que cada um fizesse uma redação sobre as férias. Voltei para casa com a cabeça literalmente acesa. Contei a história das minhas férias e, depois que a professora leu a "composição", veio até mim e comentou algo assim: "você tem muito talento para redigir, parabéns, espero que você continue assim. Você pode ser um escritor!". Durante anos pensei nisso, ser escritor, romancista, contista, cronista, poeta. Mas à medida que lia e crescia passei a me sentir um tanto alienado, deslocado, alguém que só era compreendido pelos seus próprios diários e cadernos de anotações. Tenho ainda um sentimento de marginalidade diante do mundo, das principais ideias políticas, sociais, literárias, uma aversão à massificação tanto quanto a um certo individualismo narcisista, contra o qual tenho que lutar nesse momento.
Escrever "diários", cadernos com anotações sobre livros, pequenas crônicas, esboços de ensaios, reflexões sobre a vida, em geral, isso tornou-se parte de minha vida pessoal desde a adolescência. Até hoje tenho diversos cadernos com tais anotações, que marcam muito minha identidade e visão de mundo. Trata-se de uma busca de sentido, de autoexame, de autoconhecimento, uma filosofia de vida.
CURRÍCULO
COLUNISTA E CONTISTA
No antigo Jornal Estado, de Florianópolis, publiquei 29 colunas sobre as questões ecológicas e culturais em 1986, 1987 e 1988.
Antes disso, eu havia escrito muitos contos e publicado alguns, no Rio Grande do Sul. A autocrítica não me permitiu publicar a maioria, que está guardada até hoje.
CRÍTICO LITERÁRIO E REPÓRTER
Em 1993 e 1994 fui repórter, subeditor de política, editor de página cultural e crítico literário no Jornal Pioneiro, de Caxias do Sul.
Antes disso, entre 1990 e 1992 também trabalhei como radialista: tive um programa na Rádio União FM de Florianópolis chamado "Verde Ambiente". Entrevistava pessoas sobre questões socioambientais.
NA UNIVERSIDADE
Na Universidade cursei Comunicação Social (Jornalismo), fiz o Mestrado em Sociologia Política (1989) e o Doutorado em Ciências Humanas (2000). Minha dissertação de mestrado tratou de juventude e ecologia política, enquanto a tese de doutorado tratou da indústria de tabaco e dos dilemas enfrentados por grupos sociais que a combatem. A graduação foi na PUC-RS, até 1982. Concluído o curso de Comunicação iniciei o curso de História na UFRGS, que continuei na UFSC, mas sem concluir, pois iniciei o Mestrado (1986) após passar em concurso público e obter bolsa do CNPq. Fiz a pós-graduação na UFSC, onde atualmente leciono -- no Departamento de Ciências da Administração e no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. Também lecionei na FURJ, na UDESC, na UCS e na UNIVALI. Nesta última trabalhei durante 14 anos.
Mais detalhes estão no CV Lattes:
Artigos Acadêmicos
Os artigos abaixo foram publicados apenas em periódicos, não em coletâneas. Estão fora de ordem cronológica.
Educação ambiental, crise civilizatória e complexidade
Pirataria digital de audiovisuais no Brasil: um diálogo entre representações sociais
Gerencialismo nas pesquisas sobre o cooperativismo nas ciências da administração
Diferenças e desafios na gestão contemporânea do meio ambiente no Brasil
Tensão entre racionalidades instrumental e substantiva em uma escola básica de tempo integral
Observatório Social do Brasil e os desafios organizacionais do controle social
Organizational Studies and Complexity: Stacey and Morin
Ambientalismo complexo-multissetorial
Economia social e solidária e empoderamento feminino
Morin, Chanlat e Institucionalistas
Guerreiro Ramos: trajetória e interlocutores
Modos de gestão para diversificação produtiva em regiões produtoras de tabaco
Teoria da delimitação de sistemas sociais em duas unidades da Uni-Yôga
Incubação de cooperativas populares: representações sociais e tensões entre racionalidades
Reflexividade e criticidade no ensino de graduação em Administração
Paradigma e Disciplina nas Perspectivas de Kuhn e Morin
Desenvolvimento urbano e crise de paradigma: o caso da região de Florianópolis
Souza Cruz: história e ideologia contemporânea sobre responsabilidade social
Cultura Organizacional e Irresponsabilidade Social: Documentários Cinematográficos
Estatuto da cidade: aspectos epistemológicos, sociopolíticos e juridicos
Reflexões sobre o programa de desenvovimento participativo da região serrana de Santa Catarina
Governança Local e Democrática em Dois Municípios da Grande Florianópolis
Indústria de tabaco e cidadania: confronto entre redes organizacionais
Ética Empresarial & Capital Social: Aproximações Conceituais
Capital Social e Resíduos Sólidos: Organizações e Multissetorialismo em Florianópolis
Indústria de Tabaco, Tabagismo e Meio Ambiente: as Redes Ante os Riscos
Política & Gestão Ambiental no Brasil: da Rio-92 ao Estatuto da Cidade
Ecologia política: Guerreiro Ramos e Fritjof Capra
Crise Civilizatória & Ambientalismo Transetorial
Marxismo Analítico & Funcionalismo
Reflexões Sobre Educação
Escolarização versus Educação
No contexto da sociedade industrial, a educação tende a perder espaço para a escolarização. Estas duas "lógicas" entram em conflito em sala de aula. O professor é pressionado a tornar-se um gestor da escolarização, deixando de lado a lógica da educação, que é endógena e que tem como núcleo o autoconhecimento. Assim, a lógica exógena e gerencial da escolarização tende a marginalizar a educação e seu núcleo.
Isso acontece devido à busca de padronização inerente à industrialização, à busca de fornecimento de pessoal qualificado para o mercado.
A lógica da escolarização, entretanto, perde o sentido numa sociedade que busca superar a padronização industrial, numa sociedade dita "pós-industrial" ou que tenha o propósito de uma "terceira revolução industrial".
Para superar a padronização industrial é preciso superar a lógica produtivista da escolarização, que é inerente ao taylorismo e ao fordismo. É preciso também superar a síndrome do comportamentalismo, que ignora a psiquê do educando e faz pouco caso da psiquê do educador.
Taylorismo, fordismo e comportamentalismo constituem o núcleo da lógica da escolarização. E professor nenhum pode ignorá-la, sob o risco de perder seu emprego. Necessariamente o professor precisa apresentar ao seu coordenador ou diretor os resultados quantitativos do processo qualitativo que é a educação.
A questão que fica, portanto, é a seguinte: em que consiste o papel do professor enquanto educador, para além do subpapel de gestor de resultados quantificáveis?
Quem educará os educadores?, perguntou Marx.
Esta questão continua de pé. Ou o professor assume o papel de educador delimitando seu subpapel de gestor, ou será crescentemente marginalizado, superado por recursos tecnológicos, num contexto de profunda crise civilizatória.
A educação tem como núcleo o autoconhecimento, que diz respeito tanto ao educador quanto ao educando. Esse núcleo, por sua vez, é constituído por uma tradição de busca da sabedoria, que vai além do conhecimento verbal e especializado. O autoconhecimento divide-se em dois caminhos possíveis e complementares: a) o indireto, verbal, especializado ou não, sobre o próprio passado e seus condicionamentos; b) o direto, não verbal e perceptivo.
Os educadores serão educados pelo próprio autoconhecimento, pela busca de sabedoria. Nesse sentido Marx encontrou o limite de sua teoria materialista, por mais dialética que seja. A lógica dialética vai além da lógica mecanicista, sem dúvida, mas fica aquém da sabedoria, que supera todo conhecimento verbal, seja especializado ou não.
A lógica dialética, assim como a dialógica, assume a tensão entre a escolarização e a educação, assume o desafio do autoconhecimento e da busca de sabedoria. Com isso poderá delimitar a lógica da escolarização, resistir ao produtivismo e à padronização, em busca da criatividade e da inovação.
"Eles passarão, eu passarinho".
Mário Quintana
"Sou um centro, não me violento. Saio de mim sem anotar o endereço".