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Foto do escritorSérgio Luís Boeira

Os extremos se tocam: Lula e Bolsonaro

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Os votos na chapa da esquerda neopopulista, teleguiada por Lula, reforçam o apartheid ideológico e o populismo-militar direitista. Os votos neste reforçam igualmente aquela. São duas posturas reacionárias, retrógradas, que se retroalimentam. Duas visões de mundo, dois "paradigmas" que se excluem aparentemente, mas que convergem na exclusão da autonomia reflexiva, da subjetividade humana e suas múltiplas dimensões, em nome de uma visão massificada da política e da sociedade.

O marxismo vulgarizado, esclerosado, é o que resta ao PT-PC do B, que busca realizar o sonho de Fidel Castro de um subimperialismo na América Latina. O militarismo aventureiro, de outro lado, reage na forma de um antipetismo neurótico. Nem projeto de sociedade tem -- trata-se apenas de reação pela reação ao projeto de poder pelo poder construído pelo PT nos dois governos Lula e no primeiro governo Dilma, quando a sociedade brasileira viveu uma expansão da economia baseada na exportação de commodities (agronegócio em parte insustentável, mineração, petróleo), na expansão de projetos sociais já conhecidos em governos anteriores (como o bolsa família), na elevação sistemática do salário mínimo acima da inflação, na geração de empregos de qualidade inferior (terceirização), na política de expansão de certas empresas (especialmente empreiteiras), etc.

O projeto petista foi possível nos dois governos Lula devido à conjuntura internacional, mas já no primeiro governo Dilma as condições internacionais apontavam para uma restrição do ritmo de crescimento dos chamados "países emergentes". Somou-se a isto um conjunto de erros de Dilma e a sucessão de escândalos, desde o mensalão até o petrolão.

O desenvolvimentismo socioeconômico do lulismo esbarrou nos efeitos da crise do sistema financeiro que ocorreu no centro do poder mundial, nos Estados Unidos (2008), com repercussão na Europa e logo depois entre os países emergentes, incluindo a China e o Brasil. Lula havia esnobado a crise internacional dizendo que se tratava de uma simples "marolinha", que o Brasil estava preparado para enfrentá-la. Não estava. Lula vê o mundo de forma simplista, sua concepção de sociedade é economicista. Não foi à toa que se elegeu prometendo 3 refeições para quem passava fome.

Criticando a política economicista, o sociólogo Listz Vieira escrevia em 2014 que "o incentivo fiscal federal (IPI) passou de R$ 300 milhões em 2007 para mais de 3 bilhões em 2013. O Governo concedeu nos últimos dez anos centenas de bilhões de reais para automóveis, agrotóxicos, fertilizantes, queima de carvão e de combustíveis fósseis. Setores da economia que mais receberam incentivos como bens de capital (máquinas e equipamentos) lideram as taxas de demissão e retração econômica nos últimos meses. E nenhum incentivo tributário foi concedido, no mesmo período, para biotecnologia, mobilidade urbana, transporte coletivo, reciclagem de resíduos, manejo e recuperação florestal ou fontes energéticas renováveis" (Eco 21, ed. 209 – abril de 2014. http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=3250).

Os governos petistas simplificaram a economia brasileira, apostaram na quantidade e esqueceram a qualidade e a sustentabilidade, em praticamente todos os setores. Grandes empresas e bancos elevaram seus lucros enquanto parcela significativa da população pobre via suas condições de consumo melhorar, mas nenhuma mudança estrutural visando a qualidade de vida foi feita.

Assim, cultivou-se a crise atual com uma visão simplista e grosseira da sociedade, da economia e do mundo. Por que deveríamos reativar essa visão grosseira agora, com um ex-capitão e um general reformado do Exército? Ou com uma dupla de esquerda teleguiada por Lula? Os extremos se tocam no pensamento simplificador.


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