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Como foi gestada a polarização política no Brasil?

Foto do escritor: Sérgio Luís BoeiraSérgio Luís Boeira

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Como foi gestada a polarização entre populismo de direita e de esquerda? Em rápidas palavras, penso que a geração do fenômeno ocorreu desde o escândalo do Mensalão, ainda no primeiro governo Lula. Aí teve início um processo de aproximação sistemática de Lula em direção ao PMDB, para viabilizar sua reeleição em 2006 e evitar aceitação de pedidos de abertura de processos de impeachment. PMDB aceitou o papel secundário, com José Alencar, numa supermaioria no Congresso, com uma coalizão de doze partidos (PT, PMDB, PRB, PCdoB, PSB, PP, PR, PTB, PV, PDT, PAN e PSC), cujos presidentes ou líderes tinham assento no Conselho Político, que se reunia periodicamente (normalmente a cada semana) com Lula. Além disso, PTdoB, PMN e PHS também faziam parte da base de apoio do governo no Congresso, totalizando quinze partidos governistas.

Com essa supermaioria gestou-se o Congresso mais conservador e reacionário da história brasileira. O custo do apoio político de cada parlamentar aumentou com o passar do tempo. O presidencialismo de coalizão virou presidencialismo de cooptação e ocultação da propinocracia, do capitalismo de compadrio sustentado por um núcleo de grandes empresas da construção civil, etc.

No primeiro governo Dilma, novamente o PMDB, dessa vez com Michel Temer, foi escolhido como parceiro de chapa, justamente porque Lula via naquele partido a possibilidade de vencer todas as votações e acobertar todas denúncias. Ciro Gomes disse recentemente em entrevista no JN que já sabia da corrupção na Petrobras, que avisou Lula e que este não tomou providências. Ciro também não agiu como cidadão, não denunciou o caso ao público, manteve-se calado.

A Lava Jato começou em 2009 investigando o ex-deputado José Janene mas foi somente em 2014 que ocorreu a primeira fase ostensiva da operação sobre as organizações criminosas dos doleiros e Paulo Roberto Costa. Foram cumpridos 81 mandados de busca e apreensão, 18 mandados de prisão preventiva, 10 mandados de prisão temporária e 19 mandados de condução coercitiva, em 17 cidades de 6 estados e no Distrito Federal.

Mas um ano antes, durante as manifestações conhecidas como Jornadas de Junho, a população já deixava bem claro que desaprovava fortemente o governo Dilma-Temer e não se sentia representada pelos partidos políticos. A aversão aos partidos de forma generalizada estava associada à ineficiência dos serviços públicos (especialmente de transportes), em comparação aos impostos cobrados, à distância do Congresso e do governo em relação ao povo nas ruas. O foro privilegiado coroava isso tudo com a convicção de que tudo acabaria em pizza. Surgia o ídolo Sérgio Moro.

Em 2014, com o maior escândalo eleitoral da história brasileira, conforme ficamos sabendo mais tarde pelo departamento de propina da Odebrecht, estava selado o terceiro maior golpe político depois do Mensalão e do Petrolão. Tanto a chapa Dilma-Temer quanto a chapa Aécio Neves-Aloysio Nunes estavam "compradas" pelas empreiteiras, especialmente a Odebrecht.

O que a direção do PT chamou de "golpe de 2016", referindo-se ao impeachment de Dilma, foi uma tentativa frustrada de ocultar a sucessão de golpes contra o povo brasileiro minuciosamente documentados desde o Mensalão. Há milhares de documentos que passarão para a história nesse sentido. Foi o fim da aliança oportunística entre PT e PMDB e o início de outra aliança oportunística entre PMDB e PSDB.

A campanha petista de desgaste da imagem de Temer foi facilitada pelas investigações e denúncias do Ministério Público e da Polícia Federal. Nesse contexto de vazio de representação dos interesses das classes média e média-alta é que surge o fenômeno Bolsonaro, um político do baixo-clero, reacionário, pretensamente honesto, milionário, parlamentar incompetente. Diga-se de passagem que Bolsonaro foi eleitor de Ciro Gomes e de Lula, a quem chamava de "companheiro".

O ódio de parte considerável das classes média e média-alta endereçado ao PT, principalmente, mas também em relação aos seus aliados históricos desde pelo menos 2006, gerou o fenômeno de um candidato que só encontrou um vice para sua chapa num general do Exército que nem cogitava ser candidato.

O clima de exacerbação midiática de ideias populistas, de salvadores-da-pátria, quando não de racismo explícito, em meio à violência urbana crescente, completou o quadro que explica o fenômeno da polarização política.

Por isso votarei em Marina, para enfrentar essa polarização embrutecedora e bárbara, enquanto há tempo.


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